sexta-feira, 15 de março de 2019

Cena 06:Tempos.


O demônio fala:
Cala a boca desgraçada, reclama menos e aceita minha farda.

Aceita o açoite que é do açoite da onde vens, aceita a miséria que é  história que tu tens.
Aceita as paisagens dos teus genes: desde a  escória da violência para meus reféns ao sangue com a consistência da influencia que tu não reténs.

Cala a boca mal criada. Toma aqui tua boca cheia de farinha ovo e água  e aceita sua ingrata.
Deixa teu povo, acidente de ainda vivo, ver as miragens de que sou o novo.
Sorria, relaxa, seja feliz. A morte que cai na ponta do teu dedão do pé podia ser você.
Agradeça.

Cala a boca retardada, não avise os outros da realidade escancarada. Te faço de louca, te faço de depravada, te meto um tiro na tua cara. A guerra já está armada antes da barriga da tua ancestral se transformar nesta brasileirada.

Veja, meu amor... Olhe bem... Agradeça, pensamento positivo, fica quieta e tudo vai ficar bem. Eu já torturei Amélia, tenho linha e agulha também. Te empalo e costuro tua boca se me convém.
Reza, não faz mais nada, só reza e pede o futuro que não vem.

Vocês já nasceram todos mortos, aqui é o melhor inferno que tu tens.


Baú de Todos os Santos.