" Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas. — O mundo é isso — revelou —. Um montão de gente, um mar de fogueirinhas. Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo." (Eduador Galeano, O Livro dos Abraços, pág. 11). Livro completo em PDF
" Que tal começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar?...
Para que serve a utopia?
Que tal se delirarmos por um momentinho?..."
(Eduardo Galeano, vídeo)
Poema de infância, brincando de criança.
A danada da fada não tinha pó de
pirlimpimpim.
Tinha pão, água e um pouco de vinho.
Sem nada para fazer, começou uma
mistura:
_ Oba! vou inventar uma
criatura.
Uma
tremenda travessura.
A criatura, que mal tinha sido criada, pediu para ser negra.
A criatura, que mal tinha sido criada, pediu para ser negra.
O pão a fez branca. E da brancura semeou um tanto de sardas.
Ela pediu para ser linda. A água a
fez nem bonita nem feia...
água sem sal.
água sem sal.
Ela pediu para ser muito
inteligente.
O vinho a fez apropriar-se do desalinho
O vinho a fez apropriar-se do desalinho
de um
leve deficit de atenção.
Com vocação de fada corrompida: Ela
implorava, a fada negava.
_ Ora, você é minha invenção.
Eu que sou a dona da situação!
_não, Não e NÃO!!!!!!!!
A mistura - pão, água, vinho- faria da criatura uma imensa doçura.
Suavidade e brandura não sobrevivem
no planeta terra.
Lá não tem terra, não. Só
lama. Lama de amargura! Isso não combina com candura, pensava a fada um
pouco preocupada (Alguns bobos - humanos fizeram da fada uma desapontada).
Porém , disse a fada à criatura:
Vai e deixa de frescura! Tu és a
minha costura!
Tens pernas, boca, olhos, cultura,
casa, comida, até mesmo educação.
Tens tudo que precisas! Não terás
motivo para reclamação!
Mas atenção!
Se porventura te deres por vencida
no meio da multidão, não perca a compostura! Cuidado com a
emoção!
A fada já arrependida de sua
pintura, sabia que água doce se perde na primeira desventura. Mas
não tinha mais jeito, não conseguia desfazer o feito.
Então se fez a nascida.
_ Parecia mais uma lombriga na
barriga de um país, dizia seu pai Luis.
_ Intriga, eu vi quando saiu de
minha barriga. Apesar de ter o tamanho de uma formiga, a rapariga já
tinha dom para cantiga. Meus Deus, será que vai virar uma mendiga? falava a mãe
para a amiga.
A fada arteira achando que fez uma
besteira, ao brincar com o divino da criação se
esqueceu da fermentação
da fruta
da vida
Nem lombriga, nem formiga...Não
virou monstro terrível neste mundo incompreensível.
Mesmo criada de forma errada, virou
moça bem apanhada e muito apaixonada.
Pois do erro da doçura da criatura,
pela primeira vez, o inesperado se fez:
o gosto pela possibilidade do impossível.
Não é incrível ?
Minha vó terminava o conto dizendo:
Negrinha, Essa é a explicação
para a invenção do inquieto coração.
Por isso o teu é acelerado. Nunca
vai bater calado.
Gostou da historinha?
Ela apagava a luz do meu quarto e caminhava até a sala onde ficava horas e
horas sentada, olhando para o nada. Só queria saber...No que será a minha velha
pensava?
Aline Baú (de todos os) Santos
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