quarta-feira, 7 de junho de 2017

Cena 04: Ensejos 1 e 2 (Em construção...)

Ensejo 1 (27/10/2010)


Acabei tudo!

Peguei a minha escova de dente, meus cremes e meus miseráveis livros e fui!
Fui para algum lugar que ele não resida, não me procure.
Sim, foi uma relação longa.
Tudo definitivamente morre e se renova e blá ,blá , blá.

Bem... tudo começou desta forma (ele sempre gostou de início de situações):
Fui na casa do tempo, o encontrei....e usei as minhas unhas, os meus berros, a minha fúria.

Mulher,

Mar revolto,

Ensaios de loucura,

Cena.


E peguei , peguei o safado.
Coloquei o danado na bandeja de oferenda, botei pipoca, mel, perfume vagabundo,cerveja preta e uma rosa vermelha.

Rosa vermelha....ah.. estas coisas de amor sempre tendem a uma breguice necessária.

E fim! (ele sempre gostou do término das situações).
O tempo foi mergulhado nas ondas do mar, engolido por mim .


Mas...  um segredo: Ainda tenho dificuldade em falar o nome dele, dói no peito.
Por esse motivo,  o escrevo :    T - E – M- P - O


 Só o tempo sabe pegar de jeito!

Aline Baú (de todos os) Santos






Ensejo 2 (06/06/2017)


Na infância eu tinha muitas dores nas pernas. Nas primeiras vezes,  pareciam que iriam me consumir.
Diziam-me que era a dor do crescimento. Essa explicação não me acalantava.
Ficava mais indignada. Por quê crescer dói??? Eu gritava.
Os adultos passavam um creme chamado "Dotorzinho" nas pernas que mediam no máximo 50 cm. Apesar da novidade da dor ser tamanha,  eu ficava mais tranquilizada. Quem sabe medicada, eu não ficaria entrevada.
Mas o que mais me intrigava era a constatação prosseguida da promessa. Falavam-me com voz amorosa:
_Todo mundo um dia já passou por isso. O tempo cura, o tempo passa.
Eu pensava, então o tempo está de trapaça. Além de doer, a dor é minha - não de todo mundo, e ainda de pirraça  o tempo não passa. Ou seja, nunca vou ficar sarada. Que solução o tempo me dava? ficar igual a ele, paralisada?
30 minutos pareciam  horas e as horas um dia inteiro.
 Sentia-me prisioneira do tic- tac do meu despertador estragado (que ficava perto do meu travesseiro, na parede ao lado). Quando o ponteiro dos minutos finalmente alcançava o número 11, o relógio ficava travado. E no meu ouvido eu escutava: Tic, tic, tic....
Na sétima crise de dor, o relógio fez tac.
Foi quando percebi que o tempo não me curou, eu que curei o tempo. Aprendi a não ter medo da dor que já estava conhecida. Sabia que aquilo durava no máximo 1 hora contada e
ocorria de vez em quando...e somente quando o sol baixava. Quando eu ficava muito agitada era certo que ela chegava, consequência que não me sentia culpada. Pois,definitivamente, a dor assimilada não me matava e o meu tempo caminhava...
de mão dadas comigo e todo gracioso.
Eu curei o tempo. Vale repetir: Eu cu-rei o tem-po.
Em troca ele não passou. Ficou  ao meu lado -  às vezes adulto, às vezes menino, às vezes idoso. Amigos, ele me ajuda a reescrever o passado,  a sonhar com o futuro. E todos os dias ele me acorda com com um beijo e o presente do agora.

Quando a novidade da dor me abala, ele sussurra em meu ouvido: "É a dor do crescimento", igual a minha mãe falava. É impossível não abrir um sorriso comovido.

 *Entre tantas coisas que é e que não é em sua complexidade não lineada,
    o tempo quando amado é o ensejo agradecido.
Muito obrigada.

Aline Baú (de todos os) Santos.





(Continua...)

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