Cala a boca desgraçada, reclama
menos e aceita minha farda.
Aceita o açoite que é do açoite
da onde vens, aceita a miséria que éhistória que tu tens.
Aceita as paisagens dos teus
genes: desde a escória da violência para
meus reféns ao sangue com a consistência da influencia que tu não reténs.
Cala a boca mal criada. Toma
aqui tua boca cheia de farinha ovo e água e aceita sua ingrata.
Deixa teu povo, acidente de
ainda vivo, ver as miragens de que sou o novo.
Sorria, relaxa, seja feliz. A
morte que cai na ponta do teu dedão do pé podia ser você.
Agradeça.
Cala a boca retardada, não avise
os outros da realidade escancarada. Te faço de louca, te faço de depravada, te
meto um tiro na tua cara. A guerra já está armada antes da barriga da tua
ancestral se transformar nesta brasileirada.
Veja, meu amor... Olhe bem...
Agradeça, pensamento positivo, fica quieta e tudo vai ficar bem. Eu já torturei
Amélia, tenho linha e agulha também. Te empalo e costuro tua boca se me convém.
Reza, não faz mais nada, só
reza e pede o futuro que não vem.
Vocês já nasceram todos mortos,
aqui é o melhor inferno que tu tens.
Moça- Flor de coração grande. Músculo oco de fome a barulhar - entre a alma - a dor de dietas restritivas. Moça – Flor com Coração faminto que expande minunciosamente a procurar nutrientes e bate (1). e aperta (2). e morde (3). e pesa (4). e dança (5) sem par (6), o tango -canção com o esôfago, artéria aorta e os pulmões laterais no compasso do acorde dos passos de dois por quatro, com movimento cadenciado, expele pedaços do músculo oco arritimado. Moça- Flor do coração inflamado, deflora o que impulsiona o sangue entre os vasos. Rasgue-o, com os dedos em pelo, do ventrículo direito ao esquerdo. E sem pestanejar o processo já instaurado e o drama alocado, aproveite o buraco cardíaco com boa capacidade de escoamentoe encharque-o de terra adubada. Faz-se do lote uma terra nutrida, com sol embotado a jorrar-se de lágrimas semeadas. Assim, Moça- Flor, com as sementes plantadas; irás te enriquecer. Não se assuste com ador que te contorce ao meio. É o seu coração que bate baixinho: “ Eu só quero florescer”. Composto fértil do TU com VOCÊ. (diástole)
- Moça - Flor, aqui deixo - no tempo de um batimento- o meu abraço apertado, regado de amor. Meu humilde presente- já futuro eternizado.
Veja: Teu coração, minha flor, é sim abençoado. Do resto dito, é só vi-ver para crer.
Peguei a minha escova de dente, meus cremes e meus miseráveis livros e fui!
Fui para algum lugar que ele não resida, não me procure.
Sim, foi uma relação longa.
Tudo definitivamente morre e se renova e blá ,blá , blá.
Bem... tudo começou desta forma (ele sempre gostou de início de situações):
Fui na casa do tempo, o encontrei....e usei as minhas unhas, os meus berros, a minha fúria.
Mulher,
Mar revolto,
Ensaios de loucura,
Cena.
E peguei , peguei o safado.
Coloquei o danado na bandeja de oferenda, botei pipoca, mel, perfume vagabundo,cerveja preta e uma rosa vermelha.
Rosa vermelha....ah.. estas coisas de amor sempre tendem a uma breguice necessária.
E fim! (ele sempre gostou do término das situações).
O tempo foi mergulhado nas ondas do mar, engolido por mim .
Mas... um segredo: Ainda tenho dificuldade em falar o nome dele, dói no peito.
Por esse motivo, o escrevo : T - E – M- P - O
Só o tempo sabe pegar de jeito!
Aline Baú (de todos os) Santos
Ensejo 2 (06/06/2017)
Na infância eu tinha muitas dores nas pernas. Nas primeiras vezes, pareciam que iriam me consumir.
Diziam-me que era a dor do crescimento. Essa explicação não me acalantava.
Ficava mais indignada. Por quê crescer dói??? Eu gritava.
Os adultos passavam um creme chamado "Dotorzinho" nas pernas que mediam no máximo 50 cm. Apesar da novidade da dor ser tamanha, eu ficava mais tranquilizada. Quem sabe medicada, eu não ficaria entrevada.
Mas o que mais me intrigava era a constatação prosseguida da promessa. Falavam-me com voz amorosa:
_Todo mundo um dia já passou por isso. O tempo cura, o tempo passa.
Eu pensava, então o tempo está de trapaça. Além de doer, a dor é minha - não de todo mundo, e ainda de pirraça o tempo não passa. Ou seja, nunca vou ficar sarada. Que solução o tempo me dava? ficar igual a ele, paralisada?
30 minutos pareciam horas e as horas um dia inteiro.
Sentia-me prisioneira do tic- tac do meu despertador estragado (que ficava perto do meu travesseiro, na parede ao lado). Quando o ponteiro dos minutos finalmente alcançava o número 11, o relógio ficava travado. E no meu ouvido eu escutava: Tic, tic, tic....
Na sétima crise de dor, o relógio fez tac.
Foi quando percebi que o tempo não me curou, eu que curei o tempo. Aprendi a não ter medo da dor que já estava conhecida. Sabia que aquilo durava no máximo 1 hora contada e
ocorria de vez em quando...e somente quando o sol baixava. Quando eu ficava muito agitada era certo que ela chegava, consequência que não me sentia culpada. Pois,definitivamente, a dor assimilada não me matava e o meu tempo caminhava...
de mão dadas comigo e todo gracioso.
Eu curei o tempo. Vale repetir: Eu cu-rei o tem-po.
Em troca ele não passou. Ficou ao meu lado - às vezes adulto, às vezes menino, às vezes idoso. Amigos, ele me ajuda a reescrever o passado, a sonhar com o futuro. E todos os dias ele me acorda com com um beijo e o presente do agora.
Quando a novidade da dor me abala, ele sussurra em meu ouvido: "É a dor do crescimento", igual a minha mãe falava. É impossível não abrir um sorriso comovido.
*Entre tantas coisas que é e que não é em sua complexidade não lineada,
" Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir
aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida
humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.
— O mundo é isso — revelou —. Um montão de gente, um mar de
fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem
duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras
de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de
fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem
queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível
olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo." (Eduador Galeano, O Livro dos Abraços, pág. 11). Livro completo em PDF
" Que tal começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar?...
Uma
tremenda travessura. A criatura, que mal tinha sido
criada, pediu para ser negra.
O pão a fez branca. E da brancura semeou um tanto de sardas.
Ela pediu para ser linda. A água a
fez nem bonita nem feia...
água sem sal.
Ela pediu para ser muito
inteligente.
O vinho a fez apropriar-se do desalinho
de um
leve deficit de atenção.
Com vocação de fada corrompida: Ela
implorava, a fada negava.
_ Ora, você é minha invenção.
Eu que sou a dona da situação!
_não, Não e NÃO!!!!!!!!
A mistura - pão, água, vinho-
faria da criatura uma imensa doçura.
Suavidade e brandura não sobrevivem
no planeta terra.
Lá não tem terra, não. Só
lama. Lama de amargura! Isso não combina com candura, pensava a fada um
pouco preocupada (Alguns bobos - humanos fizeram da fada uma desapontada).
Porém , disse a fada à criatura:
Vai e deixa de frescura! Tu és a
minha costura!
Tens pernas, boca, olhos, cultura,
casa, comida, até mesmo educação.
Tens tudo que precisas! Não terás
motivo para reclamação!
Mas atenção!
Se porventura te deres por vencida
no meio da multidão, não perca a compostura! Cuidado com a
emoção!
A fada já arrependida de sua
pintura, sabia que água doce se perde na primeira desventura. Mas
não tinha mais jeito, não conseguia desfazer o feito.
Então se fez a nascida.
_ Parecia mais uma lombriga na
barriga de um país, dizia seu pai Luis.
_ Intriga, eu vi quando saiu de
minha barriga. Apesar de ter o tamanho de uma formiga, a rapariga já
tinha dom para cantiga. Meus Deus, será que vai virar uma mendiga? falava a mãe
para a amiga.
A fada arteira achando que fez uma
besteira, ao brincar com o divino da criação se
esqueceu da fermentação
da fruta
da vida
Nem lombriga, nem formiga...Não
virou monstro terrível neste mundo incompreensível.
Mesmo criada de forma errada, virou
moça bem apanhada e muito apaixonada.
Pois do erro da doçura da criatura,
pela primeira vez, o inesperado se fez:
o gosto pela possibilidade do impossível.
Não é incrível ?
Minha vó terminava o conto dizendo:
Negrinha, Essa é a explicação
para a invenção do inquieto coração.
Por isso o teu é acelerado. Nunca
vai bater calado.
Gostou da historinha?
Ela apagava a luz do meu quarto e caminhava até a sala onde ficava horas e
horas sentada, olhando para o nada. Só queria saber...No que será a minha velha
pensava?
_Ao se conectarem ao mundo pela internet, as pessoas estariam se desconectando da sua própria realidade? Zygmunt Bauman –Os contatos online têm uma vantagem sobre os offline: são mais fáceis e menos arriscados — o que muita gente acha atraente. Eles tornam mais fácil se conectar e se desconectar. Casos as coisas fiquem “quentes” demais para o conforto, você pode simplesmente desligar, sem necessidade de explicações complexas, sem inventar desculpas, sem censuras ou culpa. Atrás do seu laptop ou iPhone, com fones no ouvido, você pode se cortar fora dos desconfortos do mundo offline... _E o que o senhor chama de “amor líquido”? Zygmunt Bauman –Amor líquido é um amor “até segundo aviso”...
Quem sabe, lá no fundo, bem no fundo... nós somos meras, mas grandiosas, poesias.. Cada ser com a sua em particular. O poema, a composição em verso, transcreve em palavras as peculiaridades de cada visão, cada vivência, cada emoção, o universo de cada ser humano. O poema, quem sabe, é uma forma de libertação do que somos bem lá no fundo: Pura poesia. E mostrar a nossa poesia, seguindo esse pensamento, é uma forma de ficarmos nus e belos à mostra aos olhos de quem sabe ver.
O que estou pensando?
Vá trabalhar, guria! Corre, corre! tem que pagar conta! Mas antes, tem que ganhar dinheiro! Mas antes, tem que fazer a firma faturar!! E depois tem que ir no super! E lavar a roupa, os olhos, a boca e a vida com o sabão recém - comprado. Teus afazeres estão todos enumerados. Corre, Corre! Se não, vai dar tudo errado!!! Já está todo mundo desempregado!!!!!
Pára, pára! Tem que ler o que está empilhado na estante! Principalmente aquele livro, já todo empoeirado. Tem que passear com os meus afetos e treinar todos os meus dialetos. Vivenciar cada um dos meus projetos. E tirar o vício do meu vocabulário a frase " tem que" ... Essa frase serve para que? Aonde foi assinado um contrato, firmado e timbrado, que "eu tenho que" (com todas as suas variáveis) alguma coisa? Assim expresso que sou um ser que nunca foi e será obrigado.
Quando vai virar gente, Guria?! Corre, Corre! Vá trabalhar!!! tem muita coisa ainda para faturar!!!!